Polícia diz que marido é o mandante da morte da empresária assassinada por falsos entregadores em Governador Valadares
José Roberto/Inter TV dos Vales
A Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) indiciou formalmente o ex-marido da empresária Ingrid Emanuelle Santos, de 34 anos, como o autor intelectual e mandante de seu brutal assassinato, ocorrido em Governador Valadares, no Leste de Minas, em setembro deste ano. O anúncio foi feito nessa quarta-feira (8), durante uma coletiva de imprensa realizada na cidade.
Ao todo, quatro pessoas foram indiciadas: o mandante, um intermediário, e dois executores, que foram presos dois dias após o crime, em Itumbiara (GO). Eles estavam em um ônibus, que seguia para o estado de Tocantins.
A corporação confirmou que o crime de feminicídio foi friamente planejado e executado mediante o pagamento de R$ 80 mil, com motivação dupla ligada tanto a conflitos conjugais quanto à atuação do ex-companheiro como líder de uma organização criminosa.

O delegado Márdio Bento Costa, responsável pelo caso, explicou que o encerramento da investigação resultou no indiciamento dos dois executores, do intermediário e do mandante.
“Dentro dos 10 dias após a prisão em flagrante, conseguimos concluir o inquérito. O indiciamento foi feito com base em depoimentos e provas documentais que apontam claramente o envolvimento dos quatro suspeitos”, disse.
Ação em Tocantins e buscas por foragidos
Polícia não descarta a hipótese de feminicídio no caso da mulher encontrada morta no Parque Olímpico
Reprodução/Arquivo Pessoal
O delegado regional Luciano Cunha de Lima informou que tanto o mandante quanto o intermediário, residentes no estado do Tocantins, estão foragidos da Justiça. A fuga aconteceu logo após a prisão dos dois executores.
“Elas foram formalmente indiciadas, mas não foram encontradas durante o cumprimento dos mandados. Desde a prisão dos executores, já haviam fugido”, afirmou.
Para obter mais provas e auxiliar na localização dos suspeitos foragidos, a PCMG, com apoio da Polícia Federal (PF), cumpriu mandados de busca e apreensão nessa terça-feira (7). A ação ocorreu em endereços ligados aos dois novos investigados, na cidade de Araguaína (TO).
Durante o cumprimento dos mandados, foram apreendidos seis celulares e nove discos rígidos de computadores, materiais que serão submetidos à perícia técnica para aprofundar a investigação.
De acordo com a Polícia Civil, os materiais apreendidos podem ajudar a comprovar a participação dos suspeitos em outras atividades ilícitas e esclarecer a extensão das operações do grupo fora de Minas Gerais.
“O indiciado também estava sendo investigado pela Polícia Federal lá em Fortaleza. Por contrabando, imigração ilegal para a Europa, e organização criminosa”, afirmou o delegado Márdio Costa.
A investigação da Delegacia de Homicídios de Governador Valadares foi encerrada com o indiciamento dos quatro envolvidos. O próximo passo é a captura dos foragidos.
O delegado Márdio Costa destacou que, devido ao envolvimento interestadual, a operação contará com apoio da Polícia Civil do Tocantins e da Polícia Federal, e que poderá ser acionada a difusão vermelha da Interpol caso os suspeitos tenham fugido do país.
A logística criminosa e o papel do intermediário
Câmeras flagram falsos entregadores entrando na casa da mulher assassinada em MG
A polícia detalhou a premeditação e a logística complexa montada pelo mandante, que justificou o alto valor pago pela execução:
Planejamento antecipado: o crime começou a ser planejado em julho deste ano, quando o intermediário esteve em Governador Valadares acompanhado de um dos executores, com o objetivo de estudar a rotina da vítima.
Hospedagem e execução: na fase final, os dois executores ficaram hospedados em um hotel na cidade entre 27 de agosto e 10 de setembro, data do crime.
Plano: os executores usaram disfarces de entregadores, com capacetes e mochilas. Segundo o delegado Márdio Costa, o mandante ligou para Ingrid, informando que mandaria um lanche — um açaí —, e a vítima, acreditando ser uma entrega legítima, abriu o portão para os assassinos.
Crueldade: imagens de segurança registraram os suspeitos entrando e saindo da casa em poucos minutos. O delegado mencionou que a presença de uma jarra de água próxima ao corpo sugere que Ingrid, de boa vontade, ofereceu água aos executores antes de ser morta.
A empresária foi encontrada com as mãos amarradas por fitas de nylon e dois cortes profundos no pescoço.
O delegado Luciano Cunha de Lima ressaltou que, quando os executores foram presos, com eles foram apreendidos objetos da vítima, incluindo um pingente da filha de três anos de Ingrid.
Conflito familiar e liderança criminosa
O delegado Márdio Costa destacou que a motivação do assassinato foi uma conjugação de fatores:
Feminicídio: havia conflitos interpessoais entre o mandante e a vítima por causa do fim do relacionamento, disputas pela guarda da filha e partilha de bens. Ingrid já havia sido ameaçada e se mudou para Governador Valadares para fugir do suspeito.
Organização criminosa: o mandante é apontado como líder de uma organização criminosa voltada à remessa ilegal de imigrantes para a Europa, especialmente Portugal e Holanda.
Ingrid como “empecilho”: a investigação apurou que a vítima passou a ser vista como um obstáculo aos negócios ilícitos do ex-marido. A incompatibilidade entre o alto padrão de vida do mandante e a ausência de renda lícita reforçou a suspeita de que suas atividades eram criminosas.
O Delegado Márdio Costa afirmou que, como se trata de um crime de feminicídio, o caso será julgado pelo Tribunal do Júri de Governador Valadares.
A Polícia Civil pretende divulgar ainda hoje os dados pessoais e fotos do mandante e do intermediário para auxiliar nas buscas.
INFOGRÁFICO: mulher é morta por falsos entregadores em MG
Arte g1
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Fonte: G1 Tocantins